O Plano Decenal de Expansão de Energia 2034 (PDE 2034) traz um alerta: a infraestrutura de transmissão elétrica no Brasil precisará crescer de forma acelerada para suportar a entrada de novos consumidores intensivos de energia, como data centers e plantas de hidrogênio verde. Para isso, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) projeta investimentos de R$ 128,6 bilhões até 2034, com a construção de 30 mil km de linhas e 82 mil MVA em subestações.
A projeção surge em um contexto de forte transformação tecnológica e pressão climática. Setores emergentes como data centers, que sustentam a digitalização da economia, e plantas de hidrogênio verde, que serão essenciais para descarbonizar setores industriais, demandam fornecimento elétrico constante, robusto e descentralizado. Esse novo perfil de consumo está redistribuindo a pressão sobre o Sistema Interligado Nacional (SIN).
Segundo a EPE, apenas os data centers que estão com solicitação de acesso à rede representam uma carga estimada de 2,5 GW até 2037, com projetos concentrados em São Paulo, Ceará e Rio Grande do Sul. No caso do hidrogênio verde, nove empreendimentos protocolados no Ministério de Minas e Energia somam uma demanda acumulada de 35,9 GW, mais que o dobro do pico atual da região Nordeste.
Essa corrida por conexão à rede já está enfrentando barreiras. De acordo com reportagens recentes, o ONS negou acesso a empreendimentos da Fortescue, Voltalia, Casa dos Ventos e outros grupos, que juntos somariam R$ 115 bilhões em investimentos. Os projetos estão parados à espera de soluções de reforço na malha elétrica.
A falta de infraestrutura também atinge a confiabilidade da rede. A EPE destaca no PDE a necessidade de garantir maior flexibilidade operativa ao sistema, o que inclui não apenas mais linhas, mas também capacidade de armazenamento e recursos de resposta da demanda. Só assim o sistema será capaz de responder aos novos padrões de carga em tempo real.
Com o Nordeste se consolidando como polo produtor de hidrogênio e também com alto potencial de geração eólica e solar, os investimentos em transmissão serão essenciais para escoar a energia gerada e atrair indústrias consumidoras. Essa interação entre geração e consumo definirá a viabilidade de um novo ciclo de industrialização verde no Brasil.
O MME já estuda mecanismos para acelerar as obras e garantir acesso à rede a esses empreendimentos. Entre as alternativas estão a antecipação de leilões e a flexibilização de regras regulatórias. Algumas propostas também sugerem o uso de sistemas de armazenamento para estabilizar a entrega de energia firme aos consumidores intensivos.
A expansão da transmissão até 2034, portanto, não é apenas uma meta logística do setor elétrico. É um eixo estratégico para que o Brasil possa aproveitar sua abundância renovável e atrair projetos de alto valor agregado, como centros de dados e plantas industriais de baixo carbono.
Victor Antonioli de Moura é Engenheiro Eletrônico pelo Instituto Mauá de Tecnologia e Mestrando em Engenharia Elétrica pela Unicamp. Com 15 anos de experiência em energia fotovoltaica e eficiência energética, atuou em grandes distribuidoras e fabricantes de painéis solares e sistemas de iluminação. Atualmente, é Gerente de Suporte Técnico da Sunova Brasil.